Lance no jogo entre Alemanha e Argentina na final da Copa no Maracanã, no Rio - Ivan Pacheco/VEJA.com
Demorou, mas o tetra chegou. Depois de uma longa espera, com 24 anos sem
levantar a Copa do Mundo, três edições consecutivas batendo na trave
(vice em 2002 e terceira colocada em 2006 e 2010) e uma nervosa
prorrogação na finalíssima, neste domingo, no Maracanã, a Alemanha
alcançou a Itália, conquistando seu quarto título mundial e deixando a
Argentina mais uma vez com o vice, repetindo a última decisão entre as
duas seleções, em 1990. A conquista veio apenas no segundo tempo do
tempo extra, com um golaço marcado por Mario Götze. Foi uma decisão
nervosa, equilibrada e muito disputada, com uma Argentina marcando forte
e a Alemanha dominando a posse de bola e martelando incessantemente no
ataque, ainda que sem grande precisão. No fim, porém, a melhor campanha
da segunda Copa realizada no Brasil foi coroada com o título, o primeiro
de uma seleção europeia em um Mundial disputado num país sul-americano.
Agora, não são só os italianos que estão a apenas uma conquista de
alcançar o Brasil: a Alemanha subiu de degrau e também pode igualar a
seleção pentacampeã já na próxima edição, na Rússia, em 2018.
Início emocionante - Melhor
ataque da competição, a Alemanha controlou a bola desde o início,
tentando trabalhar suas jogadas diante de uma muralha defensiva
argentina. Os sul-americanos, que não sofreram nenhum gol desde o início
da fase eliminatória da Copa, permitia a troca de passes dos alemães
antes da intermediária, mas bloqueava todos os espaços nos últimos 30
metros de seu campo. A aposta era no contragolpe, principalmente através
das arrancadas de Lionel Messi. E foi com essa estratégia que a equipe
do técnico Alejandro Sabella criou sua primeira chance, aos 3 minutos,
com Higuaín batendo cruzado depois de jogada de Lavezzi. Os alemães
tentavam responder acionando o jovem craque Thomas Müller, aberto pela
direita, mas ele era perseguido de perto pelo lateral Rojo. Os
contra-ataques argentinos eram alarmantes para os alemães, especialmente
no lado defendido pelo pesado Höwedes, zagueiro improvisado na lateral
esquerda. A Alemanha tentava abrir o placar procurando o recordista de
gols Miroslav Klose, mas a dupla de zaga formada por Garay e Demichelis
rebatia bem as jogadas aéreas.
Aos 20 minutos, a Argentina desperdiçou uma chance inacreditável. Toni
Kroos vacilou, cortou uma bola alta na intermediária na direção do
próprio gol e deu de presente para Higuaín, cara a cara com Neuer, sem
nenhuma marcação. Ele pegou mal na bola, que saiu lentamente pela
direita do gol alemão. Os argentinos faziam uma marcação fortíssima,
induzindo a Alemanha ao erro e tentando sair em velocidade para o
ataque, com a menor quantidade possível de passes até a finalização. Aos
27, num raro vacilo de seu bom sistema defensivo, a Argentina foi pega
de surpresa numa enfiada de bola do capitão Philipp Lahm para Müller,
que não conseguiu desviar para o gol. Romero rebateu. Aos 29, a torcida
argentina explodiu no Maracanã quando Gonzalo Higuaín recebeu cruzamento
de Lavezzi e empurrou para as redes. A alegria durou pouco: o árbitro
italiano Nicola Rizzoli anulou o gol, por impedimento, marcado
corretamente. No minuto seguinte, a primeira alteração do jogo: Joachim
Löw teve de tirar Kramer (que já havia aparecido de surpresa na
escalação, substituindo Khedira de última hora), machucado. O técnico
alemão apostou no atacante Andre Schürrle.
Apesar de ficar mais tempo com a bola, a Alemanha acabava cometendo as
faltas mais duras, e dois marcadores importantes, Schweinsteiger e
Höwedes, foram advertidos com o amarelo. Aos 35, a Alemanha assustou de
novo depois que Klose puxou o ataque pela esquerda e acionou Schürrle; o
atacante bateu firme, exigindo boa defesa do Romero, mas a arbitragem
marcou o impedimento no rebote, já que Ozil estava bem na frente do
goleiro argentino. Quatro minutos depois, a Argentina perdeu mais uma
chance claríssima, com Messi invadindo a área pela esquerda, chegando ao
fundo e cruzando com extremo perigo. A bola atravessou a pequena área e
foi salva por Boateng, que cortou antes que Lavezzi conseguisse
finalizar. Aos 43, o troco alemão, com uma boa trama ofensiva: Klose
roubou a bola na intermediária, Müller recebeu e avançou pela direita,
Ozil dominou e cortou a marcação na meia-lua e Kroos bateu rasteiro.
Romero agarrou com segurança. Já nos acréscimos do primeiro tempo,
Höwedes subiu sozinho em escanteio batido por Kroos e carimbou a trave
esquerda de Romero. Na primeira metade do jogo, o duelo entre o toque de
bola dos alemães (que tiveram 63% de posse de bola, contra 37% dos
oponentes) e os contragolpes perigosos dos argentinos terminava em
igualdade, com boas oportunidades para os dois lados e uma partida com
desfecho totalmente imprevisível.
Mudanças e tensão - A
Argentina voltou para o segundo tempo com o ataque reforçado: saiu
Lavezzi, que criou poucos lances de perigo, e entrou Sergio Agüero.
Outra novidade foi a postura da equipe de Sabella, que começou atacando
muito mais. Logo no primeiro minuto, foi a vez de Lionel Messi perder
uma grande chance, invadindo a área pela esquerda e batendo rasteiro,
para fora, num lance que o craque não costuma perdoar. A Alemanha não
conseguia se encontrar no gramado e os argentinos aproveitavam,
avançando suas linhas. Percebendo o bom momento, a torcida da seleção de
Messi aumentava o volume de seus cantos no Maracanã. Por volta dos 10
minutos, contudo, os alemães restauraram o equilíbrio da partida,
voltando a avançar ao ataque e a manter a bola por mais tempo em seus
pés. Aos 13 minutos, Lahm foi ao fundo e cruzou para Klose, que subiu
bem mas não acertou o cabeceio em cheio. Romero segurou com facilidade. A
Alemanha crescia, retomando a superioridade mostrada durante parte da
etapa inicial. Aos 18, Mascherano ficava pendurado ao acertar um
carrinho por trás em Klose. No lance seguinte, foi a vez de Agüero ser
advertido, depois de falta violenta em Schweinsteiger. A partida ficava
mais tensa, com menos oportunidades de gol. Aos 28, Messi conseguiu se
livrar da marcação, carregou para o meio e bateu de curva, mas para
fora.
Aos 31, nova troca no setor ofensivo argentino, com Higuaín dando lugar a
Rodrigo Palacio. Mas era Messi o motor do ataque: logo depois da
substituição, ele voltou a chamar o jogo e a
responsabilidade, arrancando em velocidade pelo meio, mas esbarrando na
zaga alemã. Os europeus responderam com uma boa sequência de ataques –
num deles, aos 36, Toni Kroos apareceu de surpresa na entrada da área
para finalizar rasteiro, para fora. Sabella usou sua última substituição
para colocar Fernando Gago no lugar de Enzo Peres, que apareceu pouco
na partida, limitando-se a compor o incansável sistema de marcação
argentino. Löw respondeu colocando Mario Götze na vaga do recordista
Klose, quase certamente em sua última aparição numa Copa. Assim como nas
últimas duas edições do torneio, a decisão do Mundial chegava à
prorrogação. E o tempo extra começou num ritmo eletrizante, com a
Alemanha quase abrindo o placar num chute de Ozil, com menos de um
minuto, e Messi respondendo num chute cruzado, no minuto seguinte. O
nervosismo, porém, atrapalhava as duas equipes – aos 7 minutos, Palacio
recebeu sozinho na área e optou por tentar um chapéu em Neuer.
Boateng apareceu na cobertura e só deixou a bola sair pela linha de
fundo. A primeira etapa da prorrogação mantinha a igualdade. Aos 4
minutos da segunda etapa, Schweinsteiger deixou o campo sangrando depois
de levar um soco numa dividida pelo alto com Agüero, que já tinha
amarelo. O árbitro italiano não viu a agressão. Logo em seguida, porém, a
Alemanha festejava: aos 7 minutos, depois de linda jogada individual de
Schürrle pela esquerda, Götze recebeu no miolo da área, matou no peito e
fuzilou Romero, deixando a Alemanha às portas do tetra
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A FOLHA
às
14:43