domingo, 18 de março de 2012

Fantástico mostra como é desvio de dinheiro em um hospital público Esquema de propina em hospitais foi denunciado pelo 'Fantástico'. Reportagem simulou licitações com quatro fornecedoras do governo federal.

“O mercado pratica 10%. É o normal, é o praxe. Aí tem uma negociação melhorzinha e faz pra 15%". A frase acima mostra como funciona o esquema de propina que acontece na saúde pública brasileira entre empresários e funcionários públicos. O repórter do Fantástico trabalhou disfarçado por dois meses como responsável pelo setor de compras do hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mostra como é feito a oferta de suborno para fraudar licitações de saúde pública.
Três das empresas envolvidas são investigadas pelo Ministério Público por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas R$ 500 milhões só em contratos feitos com verbas públicas.
Uma licitação correta termina com a abertura dos envelopes das propostas para se saber quem é o vencedor. Em uma licitação fraudada, os envelopes acabam lacrados, porque já se sabe quem vai levar. A propina chega a atingir milhares de reais.
A Toesa Service, uma locadora de veículos, foi convidada para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. “Cinco. Cinco por cento. Quanto você quer?”, pergunta de imediato o gerente Cassiano Lima. Falando em um código em que a palavra "camisas" se refere à porcentagem desviada, ele aumenta a propina. “Dez camisa [sic], então? Dez camisa?".
David Gomes, presidente do conselho da Toesa, garante que o golpe é seguro e, o pagamento, é realizado em dinheiro ou até mesmo em caixas de uísque e vinho. A Toesa ganharia R$ 1.680 milhão pelo contrato.
"Eu vou colocar o meu custo, você vai falar assim: ‘Bota tantos por cento’. A margem, hoje em dia, fica entre 15 e 20", explicam Carlos Alberto Silva e Carlos Sarres, diretor e gerente da Locanty Soluções e Qualidade, convidada para a licitação de coleta de lixo hospitalar. "Nós temos hoje, aproximadamente, três mil clientes nessa área de coleta", afirmam.
A lei brasileira prevê concorrência mesmo em licitações feitas em regime emergencial, mas isso não inibe o desvio de dinheiro público. As fornecedoras agem em conjunto e aquelas que fazem parte do esquema entram com orçamentos mais altos que o da primeira empresa nas licitações. Entram para perder.
"Eu faço isso direto. Tem concorrência que eu nem sei que estou participando!", comenta Renata Cavas, gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções, empresa chamada para a licitação de contratação de mão de obra para jardinagem, limpeza, vigilância e outros serviços que ganharia R$ 5.200.000 se a licitação tivesse existido.
O dinheiro do suborno é espalhado por vários itens da proposta vencedora. Assim, a fraude fica escondida da fiscalização. Jorge Figueiredo, representante comercial da Bella Vista Refeições Industriais, explica como funciona.
"Tem gente que não conhece alimentação e diz assim: 'Figueiredo, eu quero 30%.' Isso não existe em alimentação. Em alimentação, nós temos que considerar a quantidade diária, colocar mais um valor ali em cima, que no montante do mês a coisa vai crescer. Então o que eu vou fazer? Eu vou te apresentar os preços e você vai dizer: 'Figueiredo, tu vai botar mais xis aí em cima.' Deu para entender? Está claro?", continua.
O dono da Rufolo diz à reportagem, que está acostumado a fraudar licitações, e a  gerente Renata comenta que o fraude nas licitações é "ética de mercado". "No mercado, a gente vive nisso. Eu falo contigo que eu trago as pessoas corretas. Eu não quero vigarista, não quero nunca".
Veja o site do Fantástico

FONTE DO G1 SÃO PAULO

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