quinta-feira, 16 de maio de 2013

Projetos inovadores combatem efeitos da seca na Paraíba

Taiguara Rangel Do G1 PB
O mais recente projeto de combate aos efeitos da seca na Paraíba é a construção de um sistema com abastecimento de baixo custo para dez comunidades rurais, assentamentos e quilombolas onde até então havia pouco ou nenhum acesso à água, já beneficiando cerca de 200 famílias. As novas iniciativas, conciliadas a projetos inovadores desenvolvidos por pesquisadores do próprio estado, tentam diminuir a dependência da população rural de açudes, poços artesianos e carros-pipa.
Segundo a gerência de execução de obras da Secretaria de Infraestrutura estadual, o projeto em fase de conclusão já está em funcionamento em todas as localidades e deverá ser ampliado para 44 municípios, financiado pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza do Estado da Paraíba (Funcep-PB) com verba orçada em R$ 1,8 milhão.
Cerca de 20 famílias moram em cada comunidade já beneficiada, nas áreas rurais do Jacaré, em Alagoinha; Panelas, em Alcantil; Murici, em Piancó; Santa Mônica, em Pombal; assentamento Santo André, em Paulista; Amarelo, em São Miguel de Taipu; Passagem Rasa, em Sumé; São Gonçalo, em Santa Luzia; Pitombeira, no município de Várzea; e comunidade Pombos, em Tacima.
Água chegou à torneira do agricultor Marcos Antônio, em Sumé (Foto: Taiguara Rangel/G1)Água chegou à torneira do agricultor Marcos
Antônio, em Sumé (Foto: Taiguara Rangel/G1)
“Eu moro aqui há oito anos. A gente nunca teve água, só tinha que ir buscar no poço usando baldes, indo de jumento ou boi de carga mesmo. Essa semana os técnicos terminaram o trabalho aqui e virou uma maravilha. A água chega bem direitinho na torneira. É uma coisa fantástica”, contou ao G1 o agricultor Marcos Antônio Rodrigues, da associação São Miguel Arcanjo, na comunidade Passagem Rasa, zona rural de Sumé.
Os moradores do assentamento nunca viram água potável sair da torneira. Nos últimos três meses, técnicos da Secretaria de Infraestrutura estiveram implantando o projeto de abastecimento simples na região, levando água encanada para todas as 16 famílias da comunidade.
“O sistema de abastecimento de água simples funciona com um poço artesiano e um reservatório de água elevado ou apoiado, distribuído nas casas através de uma ligação domiciliar que deixa a ligação na ponta da casa. Perfuramos ou recuperamos um poço abandonado, é feita essa caixa d'água, levado líquido em uma adutora e depois distribuído às casas. Cada comunidade foi avaliada, são assentamentos carentes na zona rural e quilombolas”, explicou o gerente de execução de obras, Francisco Tadeu.
As famílias da comunidade Uruçu, em São João do Cariri, não tinham acesso à água potável. Sobreviviam do que era coletado por meio de cisternas ou do abastecimento por carros-pipa. Um projeto inovador aproveita os rejeitos de água retirada de poços, considerada salobra e imprópria para o consumo, para realizar o cultivo de algas, alface, tomate e criação de peixe.
Projeto de dessalinização auxilia cultivo em São João do Cariri (Foto: Divulgação/UFCG)Projeto de dessalinização auxilia cultivo em São João
do Cariri (Foto: Divulgação/UFCG)
A comunidade dispõe ainda de cinco mil litros de água subterrânea dessalinizada por mês. Os produtos finais destas atividades na comunidade Uruçu podem ser consumidos pelos moradores e ainda geram renda com a comercialização. A iniciativa foi desenvolvida através de pesquisa do laboratório de Engenharia Química da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Após ter acesso, pela primeira vez, à água potável com a instalação de um dessalinizador, a comunidade se dedica à hidroponia – sistema de cultivo dentro de estufas no qual o solo é substituído por uma solução de água com nutrientes – numa produção que atinge mensalmente seis mil pés de alface e cerca de 230 kg de tomate. As famílias têm ainda outra alternativa de renda com a comercialização de tilápias, cuja produção atual chega a cinco mil peixes, e de spirulina, uma microalga de uso farmacêutico e em suplementos alimentares.
“Essa tecnologia de gestão ambiental, econômica e social pode chegar a outras localidades. Só no semi-árido nordestino são mais de três mil dessalinizadores instalados, cujo concentrado não é aproveitado, sendo devolvido ao solo, prejudicando o meio ambiente. Temos mais de 1,5 mil projetos de dessalinizadores no Nordeste e precisamos de incentivo para instalarmos”, disse o pesquisador Kepler França, coordenador do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) .
Além do sistema de abastecimento simples, as soluções mais recentes para o combate à estiagem na Paraíba, de acordo com a Secretaria de Infraestrutura do estado, foram a recuperação de 133 poços artesianos desde outubro do ano passado, somados a outros 353 que ainda passarão por reformas na Paraíba. Atualmente 170 municípios estão sendo atendidos com abastecimento de carros-pipa por decreto de situação emergencial.

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