terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tio e sobrinho contam momentos de desespero após naufrágio na Paraíba

'Tive que carregar meu sobrinho até pelo cabelo', diz náufrago.
Buscas continuam pelos dois tripulantes que ainda estão desaparecidos.

Daniel Peixoto Do G1 PB

Francisco Amorim, Alex Ramon, Jânio Tavares e Luiz Carlos (Foto: Daniel Peixoto/G1)Francisco Amorim, Alex Ramon, Jânio Tavares e Luiz Carlos receberam alta após passarem dois dias no hospital para se recuperar de queimaduras e desidratação (Foto: Daniel Peixoto/G1)
Seis tripulantes da embarcação Horizonte 2, que explodiu no dia 3 de outubro na divisa entre Pernambuco e Paraíba, receberam alta médica no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa na tarde desta segunda-feira(8).  Dentre os resgatados estão Francisco Amorim, de 39 anos, e seu sobrinho Alex Ramon, de 19 anos. As buscas seguem porque dois tripulantes continuam desaparecidos.
Na saída do hospital, Francisco Amorim e Alex Ramon conversaram com o G1 e contaram sobre as horas de agonia, desde o acidente até momento do resgate. “Segui uma luz, acreditando que seria algum sinal vindo da terra, mas quanto mais a gente nadava, mais a luz se distanciava. Não parei e continuei nadando até que uma onda bateu em mim e me levou até a beira. Só pode ter sido Deus”, descreveu Francisco.
Francisco contou que teve que carregar seu sobrinho, Alex, até pelo cabelo (Foto: Daniel Peixoto/G1)Sobrinho conta que seu tio o manteve com
esperança (Foto: Daniel Peixoto/G1)
Os dois conseguiram chegar à praia ainda durante a madrugada do sábado (6) e, por não saberem para que direção seguir, eles dicidiram cavar um buraco e se cobrir com areia para descansar e se proteger do frio. Eles só foram encontrados pelas equipes do Capitania dos Portos no fim tarde do sábado.

Os náufragos contam que ficaram dois dias e duas noites em alto mar após um botijão de gás, do barco em que trabalhavam, explodir. Eles foram encontrados em Pitimbu, praia do Litoral Sul da Paraíba, no último sábado (6), com queimaduras de 1º grau e desidratação.

Francisco, que trabalhava como maquinista no barco, contou o desespero que passou no alto mar. “Tive que carregá-lo, puxar seu braço, seu cabelo, para que ele continuasse me acompanhando. Ficávamos gritando durante a madrugada, sonhando que alguém nos ouviria. Eu cheguei a ter alucinações em vários momentos, mas mantive o foco para salvar a minha vida e desse garoto, que é de minha família”, contou.
Quando amanheceu, os dois continuaram caminhando pela orla até ficarem impedidos de continuar por cansaço e medo de atravessar um rio com correnteza forte na região. “Esperamos a maré secar para termos coragem de passar pelo rio. Continuamos andando até encontrarmos ajuda e sermos socorridos pelos médicos”, disse Francisco.
Já Alex Ramon preferiu apenas agradecer a todo o esforço realizado por seu tio para que ele continuasse vivo. “Tenho que agradecer muito. Ele me manteve motivado para continuar vivo. Em alguns momentos eu pensava que ia morrer, mas ele me mantinha acreditando. Meu tio não se mostrou cansado em nenhum momento, ele só reclamava do frio”, comentou.
Sobre a escolha de voltar ao trabalho de pesca, os dois afirmaram que vão ter que conversar para chegar em uma decisão. “É um meio de sobrevivência, mas foi um trauma muito grande e minha mulher não quer que eu trabalhe mais com isso não. Acho melhor eu pensar direito”, disse Francisco já com um sorriso no rosto. Ele e os outros cinco tripulantes foram levados de volta para Recife por um veículo da empresa onde trabalham.
Entre os outros que receberam alta, estão Ari Batista, Jânio Tavares de Melo, Luiz Carlos Querino, João Francisco de Souza. Neste domingo (7), Ramiro Freires, primeiro tripulante a ser encontrado, no sábado bem cedo, também recebeu alta.
Buscas
Helicóptero da PRF foi usado nas buscas (Foto: Divulgação/PRF)Helicóptero da PRF foi usado nas buscas
(Foto: Divulgação/PRF)
A Polícia Rodoviária Federal informou que durante todo o domingo (7) realizou buscas pelo litoral na tentativa de encontrar mais alguma das vítimas ou vestígios do acidente. Durante as ações de resgate da Polícia Rodoviária Federal foram utilizados dois helicópteros em uma operação que se estendeu até o final da tarde, mas as vítimas não haviam sido localizadas.
A Capitania dos Portos disse que as buscas também aconteceram nesta segunda-feira (8), das 6h até o pôr do sol, na Praia de Jacumã, no Litoral Sul da Paraíba. Foi informado também que as buscas vão continuar ainda nos próximos dias, e que será instaurado um inquérito administrativo para apurar os fatos que levaram ao acidente. O prazo para conclusão é de até 90 dias.
Naufrágio
Ramiro foi encontrado na Praia de Tambaba no  sábado (Foto: Walter Paparazzo/G1)Ramiro foi encontrado na Praia de Tambaba no
sábado (Foto: Walter Paparazzo/G1)
O naufrágio aconteceu na noite da quarta-feira (3) na divisa entre os estados de Pernambuco e Paraíba. Os homens teriam percorrido aproximadamente 40 km até conseguirem chegar em praias do Litoral Sul paraibano. Um deles foi encontrado na Praia de Tambaba, quatro foram resgatados em Praia Bela e dois na Praia de Pitimbu.
O barco Horizonte 2 pertencia a empresa Pronaval e estava com nove tripulantes. O proprietário da empresa que fica em Pernambuco, José Carlos, contou que os funcionários são pescadores profissionais de atum.
Ramiro contou para as pessoas que o resgataram que na quarta-feira (3) o escape do barco começou a expelir faíscas e o fogo atingiu a mangueira de um botijão de gás. O fogo se alastrou e os tripulantes pularam da embarcação. Após alguns minutos o barco explodiu. O comandante do barco disse que não deu tempo para pegar os coletes salva-vidas. Ramiro explicou que os nove sobreviventes ficaram segurando uma corda.

fonte: 
Daniel Peixoto Do G1 PB

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