Caixão de Dominguinhos deixa a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Foto: Chico Peixoto / Leia Já Imagens / Estadão Conteúdo)
Uma despedida musical marcou o fim do velório do cantor José Domingos de Moraes, o
Dominguinhos, 72 anos, na tarde desta quinta-feira (25), no
Recife.
Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, o sanfoneiro Cezzinha e vários outros
artistas entoaram sucessos do pernambucano antes que o caixão fosse
fechado e coberto com as bandeiras de
Pernambuco e do Brasil. A cerimônia aconteceu na Assembleia Legislativa (Alepe), bairro da Boa Vista, no Centro da capital.
Ao som de "Gostoso demais" - conhecida pelo verso "Quando estou com
você / Estou nos braços da paz" -, o caixão foi colocado sob aplausos e
cantoria em um caminhão do Corpo de Bombeiros, na companhia de dois
sanfoneiros, saindo em carro aberto para o cemitério Morada da Paz, em
Paulista, na Região Metropolitana do Recife. O veículo saiu por volta
das 17h.
Na saída, dezenas de fãs aplaudiram e tentaram tocar o caixão do
músico. A Rua da Aurora, no Centro da capital, em frente ao prédio da
Alepe, foi interditada para acomodar o público que acompanhava a
despedida. Motoristas buzinaram para homenagear o artista.
Elba Ramalho e Liv Moraes, no velório de Dominguinhos
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
Música e orações
Antes do corpo deixar o plenário da Assembleia, familiares, amigos e
sanfoneiros fizeram orações e cantaram os maiores sucessos do músico. A
estudante Melizia Soares acompanhou o início do cortejo. "Ele marcou a
nossa vida, assim como Luiz Gonzaga. Meu pai e minha mãe sempre
escutaram as músicas dele, vim dar adeus a esse mestre da sanfona",
contou.
A também estudante Rizolene Maria da Silva fez questão de se espremer
em meio aos outros fãs para ver a saída do caixão. "Não poderia deixar
de vir. Ele era um dos principais artistas nordestinos. Estou
emocionada", disse. O agricultor Francisco Lima saiu de Carpina, na Mata
Norte do estado, e chegou ao Recife por volta do meio-dia. "Ele
representou principalmente o povo do interior. Contou nossa história
pelo País afora", afirmou.
Uma das últimas a chegar à Alepe, a cantora Elba Ramalho ficou ao lado
da filha de Dominguinhos, Liv Moraes, e no discurso fez questão de
ressaltar as qualidades do artista. "Ele nunca me magoou e eu nunca o
magooei. Isso é algo raro. Dominguinhos era como uma fonte de água
cristalina. Ele deixa um legado de simplicidade, humildade e capacidade.
Que Deus abençoe e que a Ave Maria esteja com ele". Ela ainda pediu
permissão aos familiares e puxou um Pai Nosso e uma Ave Maria. A filha
dele, que chorava muito, precisou ser amparada por parentes e amigos.
Geraldo Azevedo cantou 'Assum preto' e ressaltou exemplo
de Dominguinhos como artista sem vaidade
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
A compositora Haideé Camelo também usou o microfone e cantou a música
que fez para o sanfoneiro, 'Seu Domingos'. "Gravei com Geraldo Lins e
mandei para ele no ano passado. Ele me disse que tinha gostado muito". O
músico Geraldo Azevedo cantou 'Assum preto' e afirmou que Dominguinhos
vai estar sempre perto dele. "Sempre fomos muito amigos. Ele é o exemplo
maior do artista real, aquele sem volúpia, sem vaidades. Gravou com os
grandes nomes da música brasileira. A alma dele, a obra e as músicas vão
ficar para sempre".
Da mesma geração de Dominguinhos, mestre Camarão também prestou sua
homenagem ao amigo. "Ele deixou um legado. Um Dominguinhos, Gonzaga,
Sivuca, não nasce todo dia. Eu comecei a tocar com ele no centenário do
Araripe, em Exu (Sertão de Pernambuco). Acho que, da minha geração,
restou apenas eu agora. É triste, ele era mais que um amigo, me despeço
de um irmão", lamentou o sanfoneiro.
O cortejo com o corpo do artista saiu da Alepe acompanhado de cinco
batedores da Polícia Militar. O sepultamento deve ocorrer no início da
noite de hoje.
Multidão aguarda saída do caixão de Dominguinhos da
Assembleia (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Outras homenagens
Durante a cerimônia, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos fez
questão de prestar sua homenagem. "Dificilmente se encontra um artista
tão importante com tanta simplicidade. Os artistas têm a capacidade de
sobreviver além da vida que Deus nos dá", apontou o governador,
lembrando ainda que o músico ajudou muitas pessoas em seu caminho.
O presidente da Alepe, Guilherme Uchôa, explica que recebeu o corpo do
músico durante a madrugada, por volta das 4h45. "Não poderíamos nos
furtar a fazer essa homenagem ao grande Dominguinhos. A Alepe tem a
obrigação, além de institucional... tem com o compromisso com a cultura
pernambucana, pois foi ele quem levou Pernambuco para todo o Brasil, é
obrigação de todos nós pernambucanos reconhecer sua importância",
destacou.
Amigos e artistas também deram depoimentos sobre o músico durante a
celebração religiosa. "Se uma palavra define Dominguinhos, essa palavra é
simplicidade", definiu o sanfoneiro Waldonys. "Eu aprendi uma frase 'a
semeadura é livre, a colheita é obrigatória'. A Dominguinhos, só temos
uma coisa a dizer: obrigado. Ele foi muito importante em minha vida",
disse o cantor e compositor Nando Cordel.
A celebração de encomendamento do corpo foi celebrada pelo padre
Josenildo Tavares. "Dominguinhos deixou sua marca no mundo, que foi a
simplicidade e a humildade. Junto a Luiz Gonzaga, Sivuca e Marinês,
imaginem que festa deve estar lá no céu", disse o religioso durante a
celebração. O padre convidou também todos os presentes para a missa de
sétimo dia na Capela do Parque da Jaqueira, na segunda-feira (29), às
20h.
Amigo ao longo de quase toda a vida, o cantor Genival Lacerda estava
muito emocionado. "Eu estou mais do que triste, a vida toda rezei por
esse amigo. A gente perde não só o maior sanfoneiro do Brasil, mas o
maior sanfoneiro do mundo, uma pessoa maravilhosa, um amigo, um irmão",
lamentou.
Velório de Dominguinhos no Recife reuniu artistas, fãs e parentes (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Histórico
O
corpo foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo
desde a madrugada de quarta (24) e partiu para o Recife às 23h10 do
mesmo dia. O velório no Recife foi aberto ao público. O artista morreu
aos 72 anos. Ele lutava havia seis anos contra um câncer de pulmão. De
acordo com o hospital Sírio Libanês, onde estava internado desde
janeiro, o músico morreu às 18h da terça (23), em decorrência de
complicações infecciosas e cardíacas. Ao longo do tratamento, ele
desenvolveu insuficiência ventricular, arritmia cardíaca e diabetes.
Antes de ser transferido para a capital paulista, o artista esteve
internado por um mês em um hospital do Recife.
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