Jogadores do Corinthians erguem a taça de campeão da Libertadores da América
Bruno Freitas e Carlos Padeiro
Do UOL, em São Paulo
O dia mais sonhado pelos corintianos e mais temido pelos rivais chegou. Muitos acreditavam que não estariam vivos para presenciar este momento, mas o Corinthians é campeão da Libertadores. Um dos maiores mitos do futebol brasileiro veio abaixo no gramado do Pacaembu na noite desta quarta-feira, quando o predestinado Emerson Sheik deu o primeiro título do Corinthians na história da Libertadores.
Com dois gols no segundo tempo, o atacante selou a vitória por 2 a 0
sobre o multicampeão Boca Juniors e pôs fim a uma longa espera da Fiel
Torcida, que agora deixa para trás décadas de gozações de seus maiores
rivais e uma lista de traumas na competição.
Foi um desfecho do jeito que o “bando de loucos” adora, com sofrimento,
suspense e gols de raça. Sheik, que já havia sido herói na vitória
sobre o Santos no primeiro jogo da semifinal, fez valer sua aura de
talismã, construída com o tricampeonato brasileiro por três equipes
diferentes em anos seguidos. Assim, se iguala no coração corintiano a
nomes do olimpo alvinegro, como Basílio-1977 e Tupãzinho-1990.
Primeiro um gol de pé direito, aproveitando rebote dentro da área do
Boca Juniors, depois um golaço arrancando com a bola dominada desde o
meio de campo, em repertório que provavelmente elevará Emerson ao
patamar dos maiores ídolos da história do Corinthians.
A vitória na final sobre o hexacampeão Boca, de Riquelme e companhia,
coroa uma campanha quase perfeita, sem derrotas e apenas quatro gols
sofridos em 14 partidas. O técnico Tite montou uma equipe que
praticamente não passa sustos, e acaba contemplado com o mais importante
troféu do futebol sul-americano. Foi uma trajetória para ninguém
contestar, com sucessos no mata-mata em duelos nacionais diante de Vasco
e Santos, em noites que o Pacaembu não vai esquecer.
O próximo desafio é o Chelsea de Lampard e Ramires, numa projeção de um
duelo com os atuais campeões europeus no Mundial da Fifa no Japão, no
final do ano. E assim como na trajetória da Libertadores, ninguém duvida
que a Fiel estará do outro lado do planeta para cantar e empurrar o
time até o fim e que a festa vai se arrastar por todo o segundo
semestre.
Sem a badalação de outras incursões na Libertadores, ao contrário do
time de Ronaldo Fenômeno e o da ‘era Marcelinho,’ a turma de Tite
esculpiu sua campanha na edição 2012 do torneio baseada em uma
estratégia defensiva bem-sucedida e muita eficiência nas moderadas ações
ofensivas. Tite jamais se abalou com as críticas à cautela tática do
sistema que montou e foi com ele até o fim.
Em comparação com o grupo campeão brasileiro do ano passado, o atacante
Liedson perdeu espaço no time. Por sua vez, Chicão reconquistou a
confiança de Tite e voltou a ser decisivo na zaga ao lado de Leandro
Castán. No meio de campo, uma formação que blindou a confiança do
torcedor contra os traumas passados, com o marcador implacável Ralf e o
multitarefas Paulinho. Destaque também para a experiência de Alex,
Danilo e, claro, Emerson Sheik.
A história do Corinthians campeão da Libertadores ainda reserva
capítulos à parte para dois nomes que a Fiel conheceu neste ano. Cássio
assumiu o gol na fase eliminatória, após falhas de Julio Cesar no
Paulistão, e virou fundamental debaixo das traves. Na decisão, brilhou a
estrela do reserva Romarinho, recém-contratado do Bragantino, autor do
gol de empate na partida de ida contra o Boca em La Bombonera.
Apesar da festa da torcida no Pacaembu, o clima era de muita tensão do
lado de fora e houve confrontos entre policiais e torcedores antes do
jogo. Em campo, o nervosismo também era visível nos minutos iniciais. Em
menos de cinco minutos, o 'esquentado' Erviti se estranhou com Paulinho
e Ralf. Chicão e Mouche receberam cartões amarelos.
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Sob tensão, o Corinthians não conseguia impor sua tradicional marcação,
enquanto os xeneizes aproveitaram o melhor início e pressionavam a
saída de bola alvinegra com os dois volantes adiantados. O craque
Riquelme tinha liberdade, transitava pela intermediária e era marcado
apenas à distância.
O Timão conseguiu encaixar a marcação e equilibrou a partida levando
mais perigo com jogadas de Alex e Emerson, que levantou os braços para
incendiar as arquibancadas.
A partida seguiu sem muitas chances de gol e com a marcação se
sobressaindo sobre a criação. No lado do Boca, os atacantes se mostraram
lentos e pouco se via de Riquelme que perdeu disputa individual com
Paulinho no centro e não conseguiu produzir com os homens das alas.
O Corinthians não permitia que o Boca levasse perigo, mas tinha
dificuldades para acertar o passe e adiantar a marcação, uma de suas
metas antes da partida. Danilo e Alex passaram a atuar mais pelo meio
para preencher os espaços e a equipe teve as melhores chances, mas não
assustou muito.
O que parecia ser 'sorte de campeão' apareceu quando o goleiro Orion
sentiu uma lesão e saiu antes do intervalo. O reserva Sosa Silva entrou
na meta argentina com a missão de parar o ataque corintiano.
O Boca gostava do empate e começou o segundo tempo já fazendo cera.
Riquelme ganhava bastante tempo nos escanteios, pedindo espaço para os
fotógrafos. Mas a estratégia de nada funcionou.
O Corinthians cresceu no jogo e foi coroado com um gol histórico de
Emerson Sheik. Bonito como a explosão da torcida e os fogos que
incendiaram o Pacaembu. Na cobrança do Alex, Danilo teve inteligência
para dar um passe de calcanhar e o atacante estufou as redes para marcar
seu quarto gol.
Após o jogo, o Corinthians manteve sua postura ofensiva, sem se
esquecer de voltar para marcar. Dessa forma, neutralizava o Boca que deu
pouco trabalho a Cassio, mesmo em desvantagem no placar.
E, iluminado, Emerson Sheik apareceu novamente para selar o título e
levar a Fiel ao delírio aos 27 min. O atacante aproveitou o erro de
Schiavi na saída de bola e teve tranquilidade para invadir a área e
tocar rasteiro na saída de Sosa. Foi o quinto gol do artilheiro no
torneio.
O Corinthians confirmou sua supremacia na partida e precisou apenas
administrar o placar, enquanto o Boca se lançava ao ataque em tentativas
desesperadas. Mas quando preciso, lá estava Cassio. Ainda houve tempo
para Sheik ser substituído já nos acréscimos e sair lentamente de campo
para irritar os jogadores do Boca. Mas foi só esperar o apito final e
vibrar com a conquista das Américas pela primeira vez na história.
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